resíduo

de tudo fica um pouco. fica o medo além do olhar vacilante, fica o choro comprimido, fica o vidro de aspirina na janela e fica a tolha molhada no chão.
fica a insondável vontade de você, até que ela se transforma em vontade dele, dele que lembrava você. então eu, que interpretei a sua, hesito em interpretar a dele, ele se transforma em você, você sai de cena. ela entra, assim, assustadora, ela é a sua. ah! o insuportável mal cheiro da memória... procuro em teus olhos algo que te denuncie, olhos negros que parecem os dele! eu falo como ela, você me confunde, eu te odeio, você segura meus braços, eu me divido em quatro, em oito, em dezesseis... mas de tudo, terrível, fica um pouco, no seu cheiro, fica um nó no meu espírito e outro no meu cabelo, uma carta desviada, re-endereçada, um poema revisto, é isso o amor? os seus fantasmas fazem teatro de sombras, ah, o ciúme consome e apavora; vem logo, vem enquanto há tempo. somos todos substitutos uns dos outros.
